Dados divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua revelaram um aumento de mais de 25% no número de trabalhadores por aplicativo no Brasil. O levantamento revelou, porém, que para ter uma melhor renda, esses trabalhadores também precisam cumprir jornadas mais longas.
A pesquisa abrange vários setores de trabalho digital, sendo que o de transporte de passageiros é o maior deles com 53,1% do total, seguido por transporte de comida e outras entregas (29,3%) e prestação de serviços gerais ou profissionais, como telemedicina, recepcionistas, tradutores, entre vários outros, chegando a 17,8%.
Para o economista Luiz Ongaratto, a questão da jornada mais longa pode não ser um problema: “caso seja essa jornada por opção do trabalhador. Ao invés de ele trabalhar formalmente, que teria esse tempo de trabalho formal mais o deslocamento, com uma, duas, três horas de ônibus por dia, ele passa também esse tempo trabalhando e fazendo a renda dele, então é um ponto a ser colocado. E a gente está vendo algumas coisas, como a própria pressão por entregas, mais entregas no tempo justo, mas também se vê as tarifas dinâmicas, os bônus”.
“Ao invés de ele trabalhar formalmente, que teria esse tempo de trabalho formal mais o deslocamento, com uma, duas, três horas de ônibus por dia, ele passa também esse tempo trabalhando e fazendo a renda dele”
Se por um lado, então, há uma série de fatores lucrativos que podem incentivar essas jornadas, há também um lado de precarização a ser considerado. “Sem garantias, sem benefícios. Mas a gente vê que é uma quantidade relevante de trabalhadores que fazem a sua contribuição. O MEI contribui para a previdência, apesar de ser um escopo menor, tem feito essa contribuição. O trabalho formal teria uma contribuição maior para a previdência. Esse trabalhador está contribuindo menos para a previdência social. O resultado é mais dinheiro no curto prazo e uma preocupação adicional sobre questões de aposentadoria, por exemplo”, pontua.
Para o futuro, o economista estima que fatores muito diversos podem afetar o segmento, como uma saturação, podendo gerar inclusive uma barreira de entrada, algo que não existe hoje e cuja integração facilitada é um atrativo. Da mesma forma, as taxas cobradas por esses serviços podem subir, diminuindo a demanda. Custos como inflação e combustível podem afetar a rentabilidade. Pode haver profissionais demais para demanda de menos. Questões legais, como o vínculo que será votado pelo STF, podem alterar toda a relação de trabalho. “Então, é uma teia, um emaranhado de coisas que estão dentro desse mesmo mercado”, conclui.
