Compartilhar

por Equipe do Observatório

Jornada de trabalho ‘infinita’ prejudica desempenho e pode levar ao burnout

Uma pesquisa realizada pela Microsoft sobre a plataforma Office 365 revelou que 40% de todos os usuários do mundo já estão checando seus e-mails às 6h e que 16% deles ainda estão agendando reuniões após às 20h. Por volta das 8h, o aplicativo Teams se torna o mais acessado: o usuário médio do sistema recebe 153 mensagens por dia, segundo o levantamento.

Ainda segundo a pesquisa, durante o dia de trabalho, o estudo aponta que os trabalhadores são interrompidos em média a cada dois minutos (cerca de até 275 vezes por dia) por reuniões, e-mails ou pelo chat corporativo. Com tantas demandas, não dá tempo de cuidar de tudo: os dados revelaram que 20% dos trabalhadores acessam a plataforma no fim de semana, inclusive durante a noite.

A pesquisa releva sinais da chamada jornada de trabalho ‘infinita’ por meio dos dados coletados da plataforma: isso é, pessoas que começam a trabalhar desde cedo, antes mesmo do horário do expediente, e que não têm hora para parar, só conseguindo desligar muito depois do horário previsto.

O estresse, a alta demanda, as interrupções constantes e a cobrança permanente tomam horas produtivas, impedem o foco e podem desgastar a saúde mental, levando ao Burnout.

“Quando eu penso em como evitar o Burnout, a primeira coisa que é a criação e promoção de políticas públicas primeiro, porque a gente precisa pensar numa sociedade menos desigual”

Considerada oficialmente uma doença laboral desde 2022, a síndrome do Burnout já é descrita desde meados dos anos 1980, mas só foi reconhecida após a pandemia, num contexto em que muita gente teve que levar o trabalho pra casa.

“Quando eu penso em como evitar o Burnout, a primeira coisa que é a criação e promoção de políticas públicas primeiro, porque a gente precisa pensar numa sociedade menos desigual”, propõe a psicóloga Lara Lima.

Além disso, ao seu ver, é fundamental que, mesmo em formatos remotos ou híbridos, limites sejam estabelecidos para preservar as boas condições de trabalho. “Ninguém foi feito para ficar acordado até 4 da manhã trabalhando em frente a uma tela. A gente precisa criar condições para que esse trabalho seja reforçador, que o trabalho viabilize uma valorização financeira, intelectual e relacional desses indivíduos e funcionários”, afirma.

E quando a pessoa já está adoecida? Lima diz que é preciso em primeiro lugar estabelecer uma rede de apoio para que essa pessoa possa buscar tratamento psicológico e psiquiátrico. Mas um fator determinante é que a pessoa consiga se afastar do que o adoeceu: se o ambiente de onde saiu for ruim, ela não pode voltar pra ele.

“O indivíduo precisa sair do ambiente que o fez adoecer. Precisa parar suas atividades laborais por um tempo, a depender de como rolou esse processo de adoecimento, seja por um tempo mínimo de 15 dias, se for preciso ser afastado pelo INSS que seja, mas que a empresa arque com tudo que for preciso e que esse indivíduo se engaje em atividades físicas e terapêuticas que o afaste, inclusive, de telas, e do contexto laboral”, orienta.

Por fim, Lara argumenta que é importante fazer um trabalho de conscientização nas empresas: “é importante que os empresários entendam que Burnout é um problema do trabalho, não do trabalhador. Essa responsabilidade não vem do indivíduo, mas da empresa. Cabe a ela pensar em uma reestruturação e tomar as medidas necessárias para que estes casos não aconteçam”.

Dentro ou fora do trabalho, é importante que as pessoas possam contar com família, amigos e com lazer, além de poder se desligar completamente de telas e do contexto do trabalho. “Temos que promover uma qualidade de vida para que as pessoas consigam viver para além do trabalho”, conclui a psicóloga.