Pela primeira vez, o avião superou o ônibus como o segundo meio de transporte mais usado nas viagens pessoais no Brasil — 12,3% contra 12%, segundo o IBGE. O dado reflete uma mudança importante no comportamento do consumidor brasileiro e vai além de um simples aumento de renda.
Os dados da Pnad Contínua apontam que a renda média do trabalhador brasileiro cresceu 3,9% em 2024 e o desemprego caiu para 6,6%. “Mas isso, por si só, não explica a virada. O avanço do transporte aéreo vem sendo impulsionado por passagens mais baratas, maior oferta de rotas, acesso facilitado ao crédito e mudanças no comportamento do consumidor”, avalia o economista Diego Dias.
Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que o preço médio das passagens caiu cerca de 6% no último ano e quase 40% delas custaram menos de R$ 500. O número de cidades com voos regulares chegou a 150 — o maior da década —, e mais de 70% das passagens atualmente são compradas pela internet, podendo ser parcelada em até 12 vezes.
“O avião ultrapassar o ônibus não significa apenas que o brasileiro tem mais dinheiro — mas que ele tem mais acesso”
O economista também lembra que a oferta de crédito também teve papel central: segundo o Banco Central, o uso do cartão de crédito para gastos com turismo cresceu 17% em 2024. “Assim, mesmo quem não teve aumento de renda conseguiu viabilizar viagens”, ressalta.
“O avião ultrapassar o ônibus não significa apenas que o brasileiro tem mais dinheiro — mas que ele tem mais acesso. A combinação entre crédito, tecnologia e desejo de viver novas experiências está redesenhando o mapa das viagens no país”, resume o economista.
Enquanto isso, o transporte rodoviário perdeu espaço, pressionado por custos maiores e pelo tempo de deslocamento.
“Além disso, há um fator emocional. Pesquisas mostram que o brasileiro passou a valorizar mais as experiências do que a compra de bens materiais após a pandemia. O avião, nesse contexto, representa status, conveniência e economia de tempo, tornando-se uma escolha cada vez mais comum nas viagens de lazer”, completa Dias.
