Uma pesquisa publicada na revista científica Journal of Affective Disorders feita om 3.500 idosos identificou especificamente a segunda-feira como um fator de estresse biológico que pode persistir por semanas, mesmo entre aqueles que estão aposentados. Os pesquisadores afirmam que a exposição prolongada a uma rotina semanal estruturada pode condicionar o corpo a responder mais fortemente à ansiedade no início da semana.
Os resultados do estudo mostraram que aqueles que relataram ansiedade às segundas-feiras apresentaram níveis de cortisol 23% mais altos em amostras de cabelo coletadas dois meses depois, em comparação com seus pares que se sentiram ansiosos em outros dias. Isso pode sugerir uma ligação fisiológica entre o início da semana e o sistema de resposta ao estresse do corpo.
Para a psicóloga Lara Lima, os resultados sugeridos podem fazer sentido, especialmente considerando o contexto pessoal da maioria das pessoas, seus problemas cotidianos e outros elementos que contribuem para que o início da semana seja particularmente estressante. “Precisamos considerar fatores como uma jornada de trabalha extensa, um ritmo de trabalho frenético, um descanso muito pequeno pensando em uma rotina de 44 horas semanais, além de existem outros trabalhos dentro e fora de casa”, pontua.
Embora o estudo seja focado inteiramente em bases fisiológicas, para Lima é evidente que os fatores que contribuem para o estresse são sociais e relacionados com a rotina: “isso não pode ser desvinculado, ainda mais considerando a população do estudo que continua manifestando esse alto nível de estresse na segunda mesmo sem estar trabalhando”.
“Acaba que a segunda-feira é quase um fator de risco para que as pessoas tenham mais vontade ou mais descuido para fazer mais coisas durante a semana”
A falta de tempo para um descanso verdadeiro parece ser o ponto central para a psicóloga, já que o estresse tem um efeito cumulativo: “acaba que a segunda-feira é quase um fator de risco para que as pessoas tenham mais vontade ou mais descuido para fazer mais coisas durante a semana”. Por causa dessa ansiedade, é mais comum as pessoas estarem mais “pilhadas” no início da semana: determinadas a resolver os problemas, algo que vai se dissolvendo em cansaço e frustração conforme os dias passam e os objetivos não são alcançados.
“Se no início da semana ela está mais atenta, ao longo da semana ela vai ficando menos vigilante”, conta, o que pode propiciar inclusive mais acidentes por desatenção. “Porque essa ansiedade do começo da semana não é reativa: o indivíduo está em estado de alerta sem saber o motivo. Ele não precisa se defender e não sabe qual é o problema, porque são tantos. Então na segunda-feira ele acende essa luz vermelha”, completa.
Para a psicóloga, estudos como esse são um alerta: “essa ansiedade é um sinal de que as pessoas não conseguem fazer outra coisa além da jornada de trabalho. A pessoa não tem tempo para socializar, cuidar da casa, cuidar de si”. A solução volta a mais tempo de descanso e jornadas menos exaustivas que levem em consideração não apenas o descanso em si, mas o lazer e as demais obrigações da vida cotidiana.