O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. Ela acontece todos os anos durante o mês de setembro e tem como objetivo quebrar tabus, estimular o diálogo e oferecer informações sobre saúde mental, ajudando pessoas a reconhecerem sinais de sofrimento e a buscarem apoio. No Brasil, a data foi criada no Brasil em 2015, pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM).
O mês também virou sinônimo de atenção para a prevenção e os cuidados com a saúde mental como um todo, inclusive ao se pensar no ambiente de trabalho e em adoecimentos relacionados à atividade laboral, como depressão, ansiedade e, principalmente, o burnout, uma síndrome ocupacional causada por estresse crônico no trabalho, quando a pressão e a sobrecarga se tornam constantes e não há tempo suficiente para recuperação, reconhecida pela OMS.
Para a psicóloga Letícia Tavares, o Setembro Amarelo é uma oportunidade para buscar mobilizar atitudes concretas de prevenção. “Muito se fala de burnout, mas eu vejo que pouco se mobiliza para pensar e agir em estratégias que, de fato, proporcionam bem-estar na vida do trabalhador. Partindo para associação de trabalho, saúde mental e Setembro Amarelo, eu vejo que existem críticas necessárias a serem feitas, como, por exemplo, eu percebo como as empresas e instituições acabam focando mais nos sintomas de alguns transtornos, tipo a ansiedade. Mas antes de qualquer coisa, o adoecimento psicológico e o suicídio são atravessados por vários fatores socioculturais e econômicos”, pontua.
“Se a pessoa tem acesso a recursos básicos para exercer da melhor maneira seu papel no mercado de trabalho e na sociedade, aí sim podemos falar de uma prevenção de verdade”
Tavares também salienta que hoje já se coloca mais em perspectiva o papel que o trabalho ocupa na vida das pessoas, não podendo ser dissociado ou isolado de problemas mentais e emocionais. “Até porque o que lidamos diariamente com uma era em que podemos denominar, igual o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, traz como sociedade do desempenho. E aí acabamos maximizando a ideia de produtividade em trabalhos que muitas vezes não atribuem ao seu funcionário um salário digno e benefícios e até mesmo tratamento adequados. E nessa ideia de desempenho, a gente pensa em produzir muito para obter retorno ou reconhecimento e isso às vezes a pessoa precisa trabalhar em mais de um emprego ou trabalhar às vezes mais de oito horas por dia e consequentemente ela pode sim apresentar sintomas clássicos de depressão, de ansiedade e do próprio burnout”, aponta.
Portanto, a psicóloga avalia que uma política séria de prevenção e cuidado precisa passar por qualidade de vida, condições dignas de trabalho, bom descanso e esforço dentro de limites razoáveis. “Se a pessoa tem acesso a recursos básicos para exercer da melhor maneira seu papel no mercado de trabalho e na sociedade, aí sim podemos falar de uma prevenção de verdade, que vai além das palavras”, conclui.