Os chamados “nem-nem”, jovens que não trabalham nem estudam, são 36% dos brasileiros entre 18 e 24 anos, segundo relatório feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Dos 37 países analisados, o Brasil ficou atrás apenas da África do Sul. Dados da Subsecretaria de Estatísticas e Estudos do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), revelam que dos 207 milhões de habitantes do Brasil, 17% são jovens de 14 a 24 anos e 5,2 milhões deles estão desempregados, cerca de 55% das dos desempregados no país.
Os nem-nem também têm um recorte de gênero e etnia: 60% dos desocupados são mulheres e 68% são pretos e pardos, segundo o MTE, e somam 7,1 milhões de pessoas. À Agência Brasil, socióloga Camila Ikuta, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) explicou que a situação socioeconômica desses jovens é o principal fator para que entrem nessa situação e não consigam sair.
“A maioria são jovens mulheres, que tiveram que deixar de estudar e não trabalhavam para poder exercer tarefas domésticas”
“A maioria são jovens mulheres, que tiveram que deixar de estudar e não trabalhavam para poder exercer tarefas domésticas, criar filhos ou cuidar de idosos ou outros familiares, reforçando esse valioso trabalho, que não é reconhecido como deveria”, explica. O fato dessas mulheres serem cuidadoras, especialmente de filhos pequenos, gera outros empecilhos e evidencia problemas, como a falta de creches.
Essa situação faz com que muitos desses jovens estejam em risco de se tornar desalentados: não apenas não trabalham e não estudam, mas também não procuram trabalho nem estudar, porque perderam as esperanças. Assim, muitos que abandonam os estudos acabam não retornando e não se inserindo no mercado de trabalho.
Segundo pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) conduzida pela economista Enid Rocha, os jovens foram a força de trabalho são um grupo heterogêneo e muitas vezes transitório. Sendo assim, sua saída da condição de nem-nem necessita d políticas públicas que permitam essa transitoriedade. “Compreender que os jovens nem-nem se constituem em um grupo heterogêneo é essencial para a formulação de políticas públicas que visam à sua reintegração no mercado de trabalho. O conhecimento da composição, do tamanho e das características de cada subgrupo dos nem-nem pode permitir aos tomadores de decisões (policymakers) definirem, com mais propriedade, quais ações devem ser priorizadas em cada situação”, diz o texto do artigo Os Jovens que Não Trabalham e Não Estudam no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.