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por Equipe do Observatório

Mulheres gastam quase o dobro de tempo no serviço doméstico que os homens

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua 2022, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que as mulheres passam, em média, 21,3 horas semanais nessas atividades, enquanto os homens utilizam 11,7 horas. É praticamente o dobro do tempo que os homens dedicam a essas atividades.

Apesar dessa pequena redução, 92,1%% das mulheres com 14 anos ou mais realizaram afazeres domésticos e/ou cuidado de pessoas em 2022, enquanto apenas 80,8% dos homens desse grupo etário estavam envolvidos nessas atividades. Além disso, a divisão das tarefas domésticas permanece desigual mesmo entre os trabalhadores: em média, as mulheres ocupadas dedicaram 6,8 horas a mais do que os homens ocupados aos afazeres domésticos e/ou cuidado de pessoas.

“O impacto disso é que a mulher opta mais por empregos de carga horária mais flexível, que permita conciliar atividades remuneradas com cuidados pessoais”

Há também um recorte social, principalmente de etnia e de escolaridade que justifica essa desigualdade. A maior parte dos homens com curso superior completo realizavam afazeres domésticos (86,2%) enquanto a menor taxa foi entre os sem instrução ou com ensino fundamental incompleto (74,4%). Entre as mulheres, as que se declararam pretas tinham a maior taxa de realização de afazeres domésticos (92,7%).

“Isso ainda é efeito de uma divisão social do trabalho que deixa as mulheres sobrerepresentadas em atividades domésticas, principalmente no cuidado de outras pessoas. O impacto disso é que a mulher opta mais por empregos de carga horária mais flexível, que permita conciliar atividades remuneradas com cuidados pessoais. Esses empregos são mais na informalidade, ou de carga horária e remuneração menor”, avalia o economista e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Sandro Monsueto.

Ou seja, estas mulheres não apenas estão sobrecarregadas com o trabalho doméstico como, por causa dele, têm uma inserção no mercado de trabalho mais precarizada.

Para Monsueto, as soluções não são simples e nem podem ser isoladas. “[As soluções] passam pela melhor distribuição regional de vagas em creches, valorização da licença maternidade e maior uso da licença paterna. No longo prazo, as medidas são pré-mercado de trabalho, com uma educação mais inclusiva e uma visão da sociedade que não desvalorize o papel da mulher”, pontua.